domingo, 28 de novembro de 2010

Natal da minha infância na aldeia

Saudade: doce poema que ninguém entendeu! Vontade de ter de novo aquilo que se perdeu.

Natal - Consoada - A missa do galo


Não há noite tão notável em todo o ano como a noite de Natal, em que as famílias se visitam e oferecem filhós e outras guloseimas. Nessa noite há ainda o costume da Consoada, que consiste numa ceia abundante em cada casa, numas melhor que outras do resto do ano.
Desse modo, jantavam ao meio dia e ceavam um pouco depois do pôr do sol, geralmente na cozinha, ao calor da fogueira, que aquecia toda a família, ao mesmo tempo em que nalgumas casas iam secando as varas de chouriças. Algumas panelas de ferro ferviam o bacalhau, hortaliça e batatas, e o caldo verde ao mesmo tempo. Já na trempe se via a sertã, onde se viam lindas filhós e rabanadas a serem feitas e numa panela maior também de ferro, nadava já o bucho ou o capão (galo), que havia de ser comido por parentes ou amigos no dia seguinte, dia de Natal.
A dona da casa sempre atenta ao lume, para que este não se apagasse, a pôr brasas com a tenaz ou pá, para a braseira para que toda a casa se mantivesse quente. Sendo ajudadas pelas filhas nestas tarefas. Sentados uns em toscos bancos ou tripeças de três pés, outros em cadeiras.
Nas casas mais abastadas todos se sentavam à mesa coberta de alva toalha de linho caseiro. Não tarde que, reunidos comam o bacalhau com hortaliça e batatas, no fim vêm as filhós e rabanadas, há também o arroz doce e a aletria. Em algumas casas também havia o polvo e o tradicional bolo de buraco (pão de ló).
Nas casas mais pobres em geral, bebiam todos pelo mesmo jarro o saborosíssimo vinho que tinham na adega que muitos só abriam o pipo nessa noite e comiam do mesmo prato. Noutras casas faziam a Ceia com mais rigor, a Consoada faz-se em todas as casas, com a diferença de numa ser com mais luxo e abundância que noutras.
Acabada a Consoada o chefe de família dava o sinal para rezar e então todos rezavam por presentes e ausentes, vivos e defuntos, pelos que andavam no mar para que Deus os trouxesse a porto de salvação, etc. No fim das rezas os filhos e netos pediam a benção e beijavam a mão dos pais e avós, seguindo-se as histórias e as mulheres a cantar os versos ao menino Jesus, assim se passava a noite. As crianças antes de se deitarem iam pôr o sapato junto à chaminé para receberem o presente que o menino Jesus lhes ia dar, entrando pela chaminé. Logo de manhã cedo era vê-los todos contentes correndo para irem ver os seus presentes, que eram umas simples calças ou meias ou botas, eles não cabiam de contentes e os adultos contentes ficavam por verem a alegria deles. Quanto aos jovens (rapazes) ao ouvirem o relógio bater as doze badaladas da meia-noite vinham acender a fogueira que durante alguns dias arranjavam lenha para acender a fogueira no adro onde houvesse igreja. Era belo ouvir o repique dos sinos para ir à missa do galo, era curioso o espectáculo em volta do vastíssimo braseiro, a alegria que se via e o murmúrio característico que se notava pelas ruas da aldeia, uns com passos ligeiros e outros com passos abafados pelos tapetes de mato que havia nas ruas, ainda outros com sons graves de tamancos ferrados que atordoavam toda a vizinhança aproximando-se da igreja. Em breve esta ficava repleta de gente, os homens ficavam atrás, as mulheres à frente, chegando o padre ao altar não tardava que todos entoassem o coro ao menino Jesus:

"Bendito e louvado seja
O menino Deus nascido
Mais a virgem que o trouxe
Nove meses escondido."

Neste coro ao Menino Deus nascido, sobressaíam notáveis e deliciosas vozes, que executavam a velha canção consagrada pelos jovens rapazes e raparigas, enquanto o pároco oferece junto do altar, armado um presépio, a pequena imagem de Jesus ao povo que ia beijando e todos a deporem a sua oferta. Terminada a missa, todos saem apressados para novamente irem para perto da fogueira para se aquecerem. As mulheres mais idosas levam brasas para guardarem. Chegando a casa, a dona de casa vai acabar de fazer os restos dos preparativos para o almoço do dia seguinte, não se esquecendo de pôr um bom tronco de oliveira para ir ficando a arder durante o resto da noite, para de manhã estarem carvão para ser guardado junto às brasas que haviam levado da fogueira, do adro da igreja, brasas estas que serviam para fazer rezas durante as trovoadas e contra os maus olhados. Assim se vai passando a noite de Natal, e a missa do Galo e a enorme fogueira.
Assim se vai começar o almoço verdadeiramente português, no fim do almoço rapazes e raparigas e todos os outros vestindo os seus melhores fatos, saem para a rua para confratenizarem. Assim era em tempos não muito longínquos, o Natal.

Hoje, infelizmente, o Natal é uma máquina comercial. Continuam as ceias abastadas, os presentes caros, mas aonde está o significado do verdadeiro Natal? Do nascimento do nosso Senhor, aonde está? Muitas famílias neste dia tão belo, que um menino nos nasceu, para mais tarde morrer, para nos dar a salvação, nem Dele se lembram, nem Nele falam. Tenho saudades desses natais, certa vez um professor disse aos seus alunos: Nos vossos trabalhos de casa, façam uma composição sobre o Natal. Os meninos lá fizeram as composições, todos falaram do natal, dos presentes, das guloseimas e dos passeios que deram, mas sobre Jesus, o motivo verdadeiro do Natal, nada. Não havia qualquer referência, é triste mas é verdade, que as pessoas tenham tanto trabalho e gastem tanto dinheiro a preparar uma festa de aniversário do Salvador do mundo e na maioria dos casos, nem se lembram de contarem aos filhos a história maravilhosa do significado deste dia tão belo para toda a humanidade.


O Natal está a chegar
E o meu coração está triste
Por haver falta de paz
E do amor que Cristo traz,
Há falta de compreensão
Há egoísmo e traição
Há mentira e falsidade
Há calúnia e maldade
E tanta tanta desumanidade
E o nosso Jesus Cristo onde está?
Ele ama sem distinção
Ele é justo e bondoso
Ele quer estar presente
Em sua festa de Natal.
Cristo é o aniversariante
Como ficará distante
Desta festa sem igual?
Para sermos felizes
Vamos convidá-lo para ficar na nossa vida
Para sempre neste dia de Natal
Viver com Ele uma comunhão constante
E verá então radiante
Uma nova luz a brilhar...
A estrela do Natal
E Cristo em cada lugar!



Um Natal muito abençoado, um ano novo com tudo de bom para todos os conterrâneos de Sabouga e todas as famílias da freguesia das Lavegadas (Moura Morta), Vilarinho do Alva, são os votos de boas festas, do blog de Sabouga.