terça-feira, 1 de março de 2011

Onde está o Carnaval português?

Nas aldeias existia o costume de os rapazes depois da ceia percorrerem as ruas tocando chocalhos, panelas, testos, etc... Tudo o que fizesse um barulho infernal. Que só podia comparar-se às latadas de Coimbra. Aumentando o barulho com uma vozaria medonha e terrível. Durante os 15 dias que antecediam o Carnaval, todos primavam por enganar ou fazer qualquer malandrice aos outros. Viúvo (a) que casasse antes do Carnaval era fatalmente ridicularizado. Homem ou mulher, novos ou velhos, a quem sucedesse alguma coisa digno de riso, ao longo do ano lá veria no Carnaval o caso ainda mais ridicularizado. Como as pulhas, quem não se lembra delas? A graça do povo era posta em evidência, nem sempre de modo inofensivo, porque às vezes cometiam verdadeiras diabruras. No que se referia ao costume de chorar o Entrudo, buzinarem, atirarem com cacos, cântaros e tudo o que fizesse muito barulho, às portas, e fazendo-o com grandes gargalhadas, fugindo com grande algazarra ensurdecedora.
As famílias antes do Entrudo, todas tinham as portas bem fechadas. Nesses dias os esconderijos das chaves eram mudados, mas mesmo assim alguns descobriam aonde estavam e faziam das deles, roubando chouriços, desarumando as casas, enfim... só quem se recorda sabe. Onde houvesse raparigas então pior, não havia travessura que estes jovens não se lembrassem de fazer. Uns por brincadeira e outros muito a sério.
O Carnaval de hoje é mais civilizado, mas fica uma saudade da alegria e cultura que se vivia nas aldeias, hoje ficam desertas porque todos querem ir ver o desfile de carros alegóricos que ao fim e ao cabo nada tem a ver com o Carnaval português.
A origem do Carnaval vem de há muitos anos atrás, há várias, uma delas é:
Quando um rei estava num banquete no seu palácio com os seus amigos, estando já um pouco embriagado, o rei mandou vir as suas bailarinas, semi-nuas e mascaradas para dançarem para os seus convidados. O rei no auge da alegria e embriaguez, dizia aos seus convidados, referindo-se às bailarinas, " a carne vale", e daí surgiu esta festa pagã do Carnaval até o ano 590 que a Igreja Católica Romana adoptou, passando a marcar os últimos dias de liberdade antes das restrições impostas pela Quaresma.
Nas nossas aldeias havia muita folia neste dia, não esquecendo o baile dos mascarados que ao bater das 12 badaladas, todos tiravam a máscara e terminava o baile. Aí começava a Quaresma que se prolongava por 40 dias, com muito respeito, não se comendo carne, só o podia fazer quem pagasse a bula ao senhor abade. Como nem todos o podiam fazer, abstinham-se de comer carne, não havia festas, bailes nem vê-los, e assim era até se chegar o DOMINGO DE PÁSCOA.
Durante a Quaresma haviam várias práticas religiosas, como a Via Sacra, o Encomendar das Almas (que consistia num cântico triste e sentimental), os rapazes também entoavam o terço em dois grupos, percorrendo todas as ruas. Nem em todas as aldeias havia o Encomendar das Almas ou a reza do terço pelos rapazes, isto era feito de noite, rasgando o silêncio da noite, sendo que muitas pessoas só conseguiam dormir depois disto.
Chegado o Domingo de Ramos, cuja procisão dava a idéia de um olival movediço, atento à grande porção de ramos de oliveira que todos levavam guardando-os em casa para livrarem das trovoadas.
Depois vem a Festa da Páscoa, depois de tanto tempo de jejum e penitência, porque a Quaresma era muito respeitada, guardavasse dois dias na semana santa, quinta-feira de tarde, sexta-feira de manhã, as pessoas nem às hortas iam, mas mal soasse as 10h de Sábado de Aleluia, repicavam os sinos e os rebanhos saíam com os seus chocalhos numa grande algazarra, foguetes estouravam e toda a gente cantava porque era Sábado de Aleluia.
A Festa da Páscoa, era muito concorrida e nelas o povo assistia com o melhor fato, um almoço melhor que o do costume e havia sempre as amêndoas, os ovos e os bolos. O senhor abade a tirar o seu afolar, indo de casa em casa, levando a imagem do Senhor a beijar. Os padrinhos davam o afolar aos afilhados mediante as suas posses. Cidades, vilas e aldeias, todos festejavam a Páscoa à sua maneira, com o objectivo da Ressurreição do Nosso Senhor Jesus.
A Páscoa vem do tempo de Moisés, tem a sua origem com a saída do povo hebreu (ISRAEL) do Egipto. Moisés tendo tentado várias vezes que o rei faraó desse liberdade ao povo hebreu que estava cativo, para regressar a Canaã, a terra prometida por Deus aos israelitas. Não o conseguindo porque o rei tanto dizia sim como não e não deixava sair o povo, então Deus falou a Moisés e o instruiu de como devia fazer, com a morte do cordeiro. E assim foi que conseguiu sair do Egipto o povo de Israel, e Deus lhes disse: "Comemorareis todos os anos neste dia a vossa saída do Egipto, assim deixando de ser escravos dos egípcios". E o povo de Deus assim o fazia todos os anos, a comemoração da sua libertação, a Páscoa.
Mais tarde passados muitos anos, no tempo de Jesus, para que nós deixássemos o jugo do pecado, na ocasião da Páscoa, Jesus se preparou para esta celebração, instituíndo a Ceia do Senhor. E sofreu numa cruz a maior das humilhações que foi a morte, vertendo o Seu sangue precioso para nos livrar da escravidão do pecado. Mas ao terceiro dia, ao romper do dia, Jesus ressuscitou, porque sem ressurreição teria sido em vão a Sua crucificação para remissão dos pecados de todo aquele que Nele crê e vê o verdadeiro significado da Páscoa como símbolo da ressurreição do Senhor Jesus.
Que a verdadeira Páscoa esteja sempre bem presente no nosso coração!

Sem comentários:

Enviar um comentário